Já imaginou você ter uma doença grave e não saber? Pior ainda, não poder fazer o tratamento adequado com medicamentos? Foi exatamente isso que aconteceu por quatro décadas nos Estados Unidos, no Experimento em Tuskegee.
Quem foram as vítimas? Qual era o objetivo desse estudo? O que aconteceu com as pessoas? Confira essas e outras respostas a seguir.
O que foi o Experimento em Tuskegee?
Conhecido por Estudo da Sífilis Não-Tratada de Tuskegee, foi um experimento médico realizado na cidade de Tuskegee, no Alabama, nos Estados Unidos. O caso é conhecido como um exemplo de má conduta científica, sendo realizado durante várias décadas, entre 1932 e 1972. Neste período 600 homens foram utilizados nos testes.
Os médicos queriam saber como a sífilis se comportava no corpo humano. Para isso, 399 deles eram portadores da doença, onde poderiam identificar o avanço natural do problema, sem a utilização de medicamentos apropriados, enquanto isso, outros 201 homens saudáveis serviriam de base para realizar as comparações.
Onde fica Tuskegee?
No começo do século XX Tuskegee era uma pequena cidade no estado do Alabama. A população era em sua maioria rural, analfabeta e negra. Foram justamente os negros os mais atingidos com esse tipo de estudo. Segundo pessoas ligadas ao programa, o Experimento em Tuskegee foi feito para ajudar no tratamento da doença em pessoas dessa etnia.
O que é sífilis?
A sífilis é uma doença sexualmente transmissível, gerada pela bactéria Treponema Palidum. Ela possui algumas fases, com sintomas diferentes em cada uma delas. Em muitos casos pode não apresentar sintomas externos, causando diversos problemas internos. É classificada em primária, secundária, terciária, latente e congênita. Nos dos primeiros níveis é contagiosa.
A sífilis congênita é passada da mãe para o bebê durante a gravidez ou no parto. É possível curar a doença e eliminar do corpo, mas esta pode reaparecer caso aja contato com alguém contaminado. Manter relações sexuais com mais de uma pessoa sem a utilização de preservativo e possuir o vírus HIV são considerados fatores de risco.
Os homens sabiam do Experimento em Tuskegee?
Não. Os homens doentes não foram informados sobre o seu diagnóstico e não haviam autorizado a participação nesta experiência. A única informação que era passada dizia que eles tinham “sangue ruim”. Era informado que o programa oferecia tratamento gratuito, levando os indivíduos a aceitarem a proposta tentadora. Além disso, eram prometidos transporte até a clínica, refeições e até a despesa com o funeral.
O que recebiam as vítimas?
Durante o acompanhamento médico onde pensavam que estavam passando por tratamentos, os homens recebiam refeições quentes. Também foram entregues alguns pagamentos em dinheiro as cobaias. Mais de 6 mil pessoas foram indenizadas devido a omissão e a falta de tratamento para a doença, custando US$ 10 milhões para a economia norte-americana.
Tratamento para sífilis na década de 1950
Durante os anos de 1950 já havia sido desenvolvido um medicamento para o tratamento da sífilis, mesmo assim os homens eram mantidos sem os remédios adequados para a doença. As instituições de saúde dos Estados Unidos já possuíam listas com os nomes dos participantes, para evitar que eles recebem o tratamento.
Quem cuidava do Experimento em Tuskegee?
Os testes realizados no Alabama foram conduzidos pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos. Portanto, o Governo Norte-Americano tinha pleno conhecimento das ações que foram desenvolvidas. Em 1929 foi publicado um estudo realizado na Noruega onde foram mostrados mais de 2 mil casos de sífilis não tratada.
Manipulação para esconder a verdade
Ao longo dos anos, houve um esforço por parte das equipes para evitar que os homens conhecessem o verdadeiro diagnóstico. A partir de 1934 os médicos da região já sabiam sobre os casos, então não deveriam oferecer tratamentos. O Exército montou um aeródromo na cidade e quis tratar a doença, mas acabaram fazendo parte dos corruptores.
Quantos homens sobreviveram ao Experimento em Tuskegee?
Quando o Experimento de Tuskegee terminou no início da década de 1970, somente 74 homens ainda estavam vivos. Outros 25 pacientes haviam morrido por sífilis e 100 deles faleceram devido a complicações causadas pela doença. O problema atingiu a família dos homens, onde 40 esposas pegaram a doença, sendo que 19 crianças nasceram portadoras de sífilis congênita.
Quais foram os resultados do Experimento em Tuskegee?
Depois que os testes foram encerrados, os resultados parciais foram apresentados em alguns congressos científicos. A divulgação desse tipo de pesquisa fez com que os autores fossem processados e pagassem indenizações para as famílias ou para os sobreviventes. Ao longo de diversos anos os problemas causados continuaram sendo lembrados.
Artigos científicos sobre o Experimento em Tuskegee
Durante os anos em que essa pesquisa foi realizada, 13 artigos científicos foram produzidos. Os mais importantes deles saíram em 1936, 1952 e 1961, sendo que todos eles citavam a falta de tratamento, gerando polêmica. Algumas pessoas ligadas a medicina e que não faziam parte do projeto acabaram aceitando os resultados obtidos.
Pesquisadores já conheciam os efeitos da sífilis
Em 1890 foi realizado o “estudo de Oslo”, indicando em 1910 que cerca de 30% dos casos sem tratamento eram convertidos em doenças cardiovasculares, insanidade e morte. No primeiro estudo do Experimento de Tuskegee é indicado que a esperança de vida para pessoas sem tratamento é de 20% menor do que a média.
O fim do Experimento em Tuskegee
Um dos membros da equipe de pesquisa denunciou os casos para a imprensa. Quando a prática começou, o Código de Nuremberg determinava os caminhos internacionais que a pesquisa com humanos deveria seguir. Esse código foi escrito nos Estados Unidos e faz parte da sentença do Tribunal de Nuremberg. Normas sobre testes com humanos também haviam sido escritas pela Associação Médica Americana (AMA).
Pedido de desculpa pelo Experimento em Tuskegee
Em 1997, 25 anos após o fim do Experimento em Tuskegee, oito vítimas ainda estavam vivas. Nessa época o governo dos Estados Unidos decidiu realizar uma cerimônia e pedir desculpas formais a todos os atingidos por esse tipo de teste, que não seguiu os parâmetros legais da pesquisa. A cerimônia aconteceu no dia 16 de maio e foi conduzida pelo presidente da época, Bill Clinton.