Antes mesmo de surgir a União Soviética e a KGB, a Rússia contava com um serviço secreto para chamar de seu. A Ochrana agia para evitar que manifestantes esquerdistas ganhassem força no país e pudessem ameaçar o governo do czar.
Eles utilizaram diversas técnicas durante este período, sendo que algumas delas não são muito ortodoxas. Quer saber mais sobre este antigo serviço secreto russo? Confira a seguir.
O que foi a Ochrana?
A Ochrana foi a política secreta do Império Russo, criada logo após o assassinato do czar Alexandre II, liderada por Alexandre III, em 14 de agosto de 1881. O grupo permaneceu na ativa até 1917, quando o império foi derrubado por meio da Revolução Russa, em fevereiro daquele ano. Suas ações eram obscuras e na maioria das vezes escondidas da população.
Para que servia a Ochrana?
O antigo serviço secreto russo foi formado para combater o terrorismo político e as atividades ligadas a esquerda. Para isso, utilizavam diversos métodos, sendo muitos deles controversos, como a leitura de correspondências privadas e a criação de sindicatos policiais para evitar movimentos trabalhistas. São citados ainda como autores dos Protocolos dos Sábios de Sião.
A Ochrana foi responsabilizada pelos comunistas de ter organizado o evento que ficou conhecido como Domingo Vermelho ou Domingo Sangrento, onde centenas de manifestantes foram mortos pelos guardas imperiais, sendo que estes estavam desarmados e participando de uma marcha, proposta pelo padre Georgy Gapon.
Quem era preso pela Ochrana ia a julgamento pelo sistema russo.
Primeiras atividades da Ochrana
O Tenente-Coronel Gregory Sudeykin, da Seção Especial de São Petersburgo, foi um dos primeiros agentes da Ochrana. Ele montou algumas operações para permitir que o serviço secreto russo pudesse observar os movimentos tomados pelos revolucionários. A ideia era apenas identificar as pessoas que atuavam nestes tipos de grupos e não prender os membros. Atividades do tipo também foram realizadas no exterior.
Um chefe de sucursal da Ochrana, Sergey Zubatov, criou sindicatos controlados pelo serviço secreto, utilizando o socialismo policial. A ideia de Zubatov era de que estas práticas apaziguassem a relação entre os bolcheviques e os trabalhadores de fábricas, que buscavam melhores condições de trabalho.
Em maio de 1901 foi criada a Sociedade de Ajuda Mútua dos Trabalhadores da Produção Mecânica de Moscou.
A ideia apresentou sucesso logo de cara, reduzindo as pressões políticas feitas por trabalhadores e afastando-os dos movimentos revolucionários. Porém, em 1903 uma greve fugiu do controle em Odessa e paralisou a região. A partir de então as atuações foram enrijecidas, buscando iniciativas para acabar com as organizações contrárias. Alguns espiões até mesmo participaram de atividades revolucionárias para não levantarem suspeitas.
Ochrana na Revolução de 1905
Durante os primeiros 20 anos de atividades, praticamente comendo pelas beiradas a Ochrana atuava para dispersar pequenos grupos revolucionários. Em 1905 começou uma revolução diferente, com marchas e greves espontâneas, trazendo um grande número de manifestantes. Dessa forma ficou comprovado que o serviço secreto não seria capaz de lidar com movimentos de massa.
Tentaram até mesmo montar uma ofensiva contra aqueles que pensavam ser os líderes da Revolução de 1905. As tentativas de repressão jamais foram concretizadas e serviram apenas para deixar ainda mais enfurecida a população russa. Em 3 de dezembro daquele ano os supostos comandantes do movimento foram presos e a Revolução chegou ao fim. A partir daí houve uma mudança na política da Ochrana. Nessa época o povo já pensava em depor o czar.
A Revolução de Fevereiro
O serviço secreto russo tentou promover o partido bolchevique, já que eles aparentavam ser uma alternativa menos ofensiva do que outros revolucionários. Entre eles estava Vladimir Lenin, que parecia colaborar para impedir os avanços dos esquerdistas. O espião Roman Malinovsky se infiltrou no grupo e ganhou a confiança de Lenin. Mesmo com todas as informações passadas por ele, a polícia não conseguiu impedir a ascensão bolchevique em 1917.
Alguns fatores colaboraram para a ineficácia do antigo serviço secreto russo. Havia sido proibida a participação de espiões policiais dentro do exército, algo que na época foi considerado desonroso. A Primeira Guerra Mundial atrapalhou, já que os agentes se voltaram contra os alemães, aliás, estes estavam financiando grupos revolucionários.
O czar Nicolau II foi deposto em fevereiro de 1917 e no dia 27 daquele mês a sede da Ochrana foi saqueada e incendiada. Esse serviço secreto foi tratado como um dos maiores símbolos do autoritarismo russo durante aquele período da história. Liderados por Lenin, o Governo Provisório dissolveu a organização e soltou a maioria dos presos políticos. Posteriormente os abusos foram revelados e ficou difícil ser um espião policial.
Ochrana atuava em toda a Rússia
Durante os 36 anos em que esteve em atividade, a Ochrana passou a contar com escritórios nas principais cidades do país. São Petersburgo, Moscou, Varsóvia, Kiev (que na época pertencia ao território russo), Odessa e Tbilisi. Existiam ainda outros 19 secretariados, em locais como Bialystok, Lodz e Vilnius.
Ochrana atuou também fora da Rússia
A Ochrana não atuava apenas na Rússia, como também em outros países, com sedes em Paris (França), Genebra (Suíça), Londres (Inglaterra), Berlim (Alemanha), Galícia (Áustria) e nos Balcãs, que envolviam diversos países, entre eles Bulgária, Grécia, Kosovo e Montenegro. Com escritórios espalhados pelo continente europeu, a Ochrana conseguia identificar situações importantes e antever acontecimentos.
Os Protocolos dos Sábios de Sião
A Ochrana foi acusada de ter fabricado os Protocolos dos Sábios de Sião, que tratavam de planos envolvendo judeus e maçons, que buscariam dominar o mundo. A falsidade destes documentos veio somente em 1921, quando o jornal britânico The Times produziu uma profunda pesquisa sobre o tema. Mesmo sendo declarado falso, serviu como base para o nazismo que se instaurou na Alemanha.
Ochrana e a tortura
Alguns pesquisadores sobre o assunto garantem que a Ochrana utilizava diversos métodos de tortura no fim do século XIX. Essa prática teria vindo de outras políticas praticadas no território russo. Pessoas poderiam ser presas caso achassem que era necessário obter alguma informação. Civis chegaram a relatar a utilização de câmaras de tortura em cidades como Varsóvia e Odessa.